Guerra de narrativas envolvendo Wanderlei, Laurez, Kátia Abreu e Carlesse se instala após afastamento do governador

Por Dermival Pereira em 05/09/2025 20:40 - Atualizado em 09/09/2025 09:51
POLÍTICA
Guerra de narrativas envolvendo Wanderlei, Laurez, Kátia Abreu e Carlesse se instala após afastamento do governador
Foto: Divulgação

O afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), determinado pela Justiça Federal, desencadeou uma verdadeira guerra de narrativas no cenário político do Tocantins. Horas depois de deixar o cargo, Barbosa publicou um vídeo nas redes sociais no qual se diz vítima de perseguição política, apontando diretamente o vice-governador e agora chefe do Executivo em exercício, Laurez Moreira (PSD).

“Eu ganhei as eleições passadas com quase 500 mil votos e, para isso, derrotei pessoas que não aceitaram e se juntaram ao vice-governador Laurez. Durante todo esse tempo eu sofri muito, por isso houve o meu afastamento do Laurez, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Eu tinha informações diárias dele em Brasília, tentando o tempo inteiro me afastar do mandato”, afirmou Barbosa.

A resposta veio em coletiva de imprensa, após a posse no Palácio Araguaia. Laurez negou qualquer participação em articulações contra o ex-governador e classificou as acusações como desrespeitosas. “São dois assuntos que eu não tenho nada a falar. O afastamento dele é questão da Justiça, e é um problema que tem que resolver com a Justiça, não comigo, né? Quem sou eu para tramar contra alguém ou fazer alguma coisa. Ele tem que responder pelos atos que praticou”, disse.

A troca de acusações ganhou novos capítulos com a entrada em cena de figuras já conhecidas da política tocantinense. O ex-governador Mauro Carlesse, que renunciou ao cargo em 2022 após ser afastado em investigações semelhantes, também se manifestou. Carlesse alegou não ter qualquer envolvimento nos fatos investigados e defendeu sua gestão, afirmando que deixou recursos em caixa, projetos e grandes obras em andamento. A declaração, no entanto, foi duramente criticada nas redes sociais.

A ex-ministra Kátia Abreu (PSD), adversária de Wanderlei, também não deixou passar em branco. Apontada por aliados do republicano como articuladora de seu afastamento em Brasília, Kátia ironizou a tese de perseguição. “Merece o Oscar do cinismo. Mobiliza centenas de agentes da PF, MPF e STF em três anos de investigações e depois foi o Laurez que o perseguiu? É muita desfaçatez”, publicou em suas redes. Em outra postagem, disparou: “E esse caso, Wanderlei Barbosa, foi Laurez que inventou também? Deveria poupar o Tocantins neste vídeo deplorável”.

Enquanto os líderes políticos trocam acusações e tentam se eximir de responsabilidades, a população assiste mais um episódio de desgaste na imagem do Estado. A crise deixa o Tocantins sem credibilidade política, econômica e moral, e as mazelas continuam evidentes: hospitais sucateados, escolas precárias e falhas graves na assistência social. O cidadão comum, cansado de versões e contra-ataques, já não acredita nas justificativas apresentadas.

Entenda o caso

O afastamento de Wanderlei Barbosa ocorreu no âmbito da Operação Fames-19, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF). A investigação apura suspeitas de desvio de recursos de emendas parlamentares destinadas à área da saúde durante a pandemia da Covid-19. O esquema envolveria contratos superfaturados e pagamento de propina a agentes públicos.

Segundo a decisão judicial, além do afastamento do governador, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em residências, gabinetes e até contra familiares de investigados. Documentos, dinheiro em espécie e equipamentos eletrônicos foram recolhidos pela PF. A Justiça entendeu que a permanência de Barbosa no cargo poderia atrapalhar a colheita de provas e a continuidade das investigações.

Com a medida, o vice-governador Laurez Moreira assumiu interinamente o comando do Palácio Araguaia. A situação, no entanto, abriu mais do que uma crise institucional: escancarou divisões históricas e a disputa por poder no cenário político do Tocantins.

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