Escândalo no Judiciário: Para o cidadão comum, hospital é fila; para o poderoso, é habeas corpus

Por Dermival Pereira em 01/12/2025 17:00 - Atualizado em 01/12/2025 17:07
ESTADO/TOCANTINS
Escândalo no Judiciário: Para o cidadão comum, hospital é fila; para o poderoso, é habeas corpus
Foto: Divulgação

Entre 2011 e 2025, o Tocantins assistiu ao afastamento de pelo menos cinco desembargadores e três juízes, todos investigados por suspeitas que vão de venda de sentenças a corrupção e assédio. A cada novo escândalo, um pouco mais do tecido institucional se desfaz. A cada novo afastamento, a confiança da população se perde. E eu, sinceramente, já perdi a minha há muito tempo.

Art. 359-T (Código Penal)/Lei 14.197/2021. "Não constitui crime previsto neste Título a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais"...

Incluo este trecho apenas para reforçar que escrevo amparado na lei — enquanto ela valer, claro.

E há um exemplo mais claro — e mais vergonhoso — de como funciona a Justiça quando o réu tem poder? Basta um político, autoridade ou figurão qualquer ser preso, e pronto: ele “adoece”. De repente surge uma crise hipertensiva, um desequilíbrio emocional, um atestado salvador após uma angioplastia. A Justiça, então, movida por súbita compaixão, abre as portas do hospital, concede prisão domiciliar, suspende medidas e, em pouco tempo, devolve ao privilegiado tudo o que ele tinha — cargo, regalias, influência.

Para o cidadão comum, o hospital é fila. Para o poderoso, é habeas corpus.

E não foi apenas o Judiciário que mergulhou nesse pântano. O Ministério Público do Tocantins acumulou seus próprios escândalos: um procurador-geral de Justiça investigado por fraude em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro, além de um assessor jurídico preso pela PF por vazar dados sigilosos do STJ. Se o órgão que deveria combater o abuso de poder é ele mesmo investigado por abuso, o que sobra?

Por isso digo — e repito: tornei-me um cético da Justiça. Não por rebeldia, nem por discurso inflamado. Por constatação. A Justiça tocantinense dá sinais diários de desinteresse pela cidadania real.

Aqui, a sensação é a de que a Justiça trabalha rápido para quem tem dinheiro, boas relações e padrinhos de luxo. Para quem não tem, sobra a morosidade, a burocracia, a frieza do sistema.

Direitos básicos — saúde, aposentadoria por invalidez, água tratada — chegam ao Judiciário doente. Mesmo com pedido de liminar, ações assim levam anos para serem apreciadas. É um ultraje.

O mais grave é que a Justiça não age nem quando deve agir sozinha, nem quando é provocada com urgência. Eu, cidadão comum, quando a aciono, faço por mera formalidade, quase uma obrigação cívica — não por acreditar.

Não sou, e não serei, o tipo de sujeito que insiste em dizer “confio na Justiça”, mesmo após apanhar do sistema repetidas vezes. A deusa da Justiça, dizem, é cega. A nossa, porém, aprendeu a abrir um dos olhos — e sempre na direção de quem pode pagar por isso.

Enquanto esse cenário persistir, me mantenho como a própria realidade me moldou:
um cético — e cada vez mais descrente — da Justiça que deveria servir ao povo, mas serve a quem pode comprá-la.

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