Meu Santos capenga, Palmeiras soberano, Flamengo nas alturas… e o Brasil no Z4 da política
Eu sempre disse que tenho três times no coração: o Santos para vencer, o Palmeiras para cair e o Flamengo para descer junto. É simples, puro e honesto. Não venham me falar de violência no futebol — eu só torço contra mesmo, com alegria, café, memória boa, telão ligado e boas risadas.
E olha… já funcionou.
O Santos era campeão, referência, revelador de Pelé, Neymar e mais meia tonelada de gente talentosa. O Palmeiras foi rebaixado duas vezes. O Flamengo viveu anos na beira do abismo e, pra falar a verdade, eu ainda acho que o “Urubu” caiu — só não pagou a Série B. Mas caiu, sim.
Eu era feliz. Minha lógica fazia sentido. Eu ria, provocava, colecionava prints e zoava um montão de amigos.
Hoje?
Hoje eu aguento a chacota do meu irmão palmeirense, da minha esposa e do meu sogro flamenguistas. Vida difícil.
Mas futebol é futebol.
A gente chora, esculhamba, aperta os dedos, ora pro juiz errar, comemora, se arrepende, promete nunca mais assistir e, no próximo jogo, tá lá. É infantil, passional, emocional — mas é isso que faz sentido. A rivalidade é comunitária. A gente se provoca, discute, mas depois toma café junto e segue a vida. Ou pelo menos deveria ser assim.
Na política… não.
E aqui começa o problema.
Bolsonaro e Lula, ao meu ver, são as duas pessoas que mais mal fazem ao Brasil atualmente. Não por existirem — mas por representarem e alimentarem dois extremos que transformaram o país numa torcida organizada de guerra.
De um lado, um extremismo engomado de verde e amarelo que acredita que tudo se resolve no grito, na arma e no ódio. Do outro, um extremismo mascarado de justiça social que, quando convém, defende até traficante em nome de um discurso que não se sustenta nem na prática, nem na moral.
E o povo?
No meio, gritando “Meu time! Meu líder!” como se o Brasil fosse um clássico no Maracanã. Mas política não é futebol.
Não tem “deixa o outro perder que eu ganho”.
Quando o país é mal governado, todo mundo perde.
• A gasolina não pergunta se você votou no Lula ou no Bolsonaro;
• O tomate não dá desconto pra patriota;
• O aluguel não baixa porque você gritou “MITO!” na rua;
• A educação não melhora porque você postou “Lula livre”.
E é isso que está acontecendo hoje no Brasil:
O extremismo nos transformou em torcedores, não em cidadãos. Precisamos de alguém que tire o país desse gramado furado. Não importa se é de centro, direita, esquerda, ponta, volante ou goleiro. Precisamos de alguém cívico, comedido, honesto, que não torça pelo “quanto pior, melhor”.
Que entenda que adversário político não é inimigo de guerra.
Que, depois da eleição, a torcida é pra dar certo.
Porque no futebol, tudo bem torcer contra o outro time.
Mas na política, se o outro perde, a gente afunda junto.
E não se enganem: o problema não é só Lula e Bolsonaro. O buraco atravessa o Centrão, o Congresso, o Judiciário, governos estaduais, prefeituras, partidos que já nasceram podres e lideranças que negociam o país como se fosse loteamento de temporada. Faz muito tempo que o poder virou moeda, não dever.
Ano que vem tem eleição.
E eu só desejo uma coisa: Que o Brasil tenha amnésia seletiva o suficiente para esquecer Lula e Bolsonaro, olhar para frente e escolher alguém que não trate o país como torcida organizada.
Nomes existem. Falta a gente parar de torcer.
Enquanto isso…
Eu sigo aqui.
Torcendo pro Santos.
E, claro, pro Palmeiras e o Flamengo voltarem a perder.
Porque, se é pra sofrer, que seja ao menos onde eu posso rir depois.