No Tocantins, de idas e vindas de governadores que fazem graça com o chapéu alheio, o teto virou chão para várias categorias de servidores

Por Dermival Pereira em 11/11/2025 08:39 - Atualizado em 11/11/2025 08:43
ESTADO/TOCANTINS
No Tocantins, de idas e vindas de governadores que fazem graça com o chapéu alheio, o teto virou chão para várias categorias de servidores
Foto: Reprodução

O modelo de remuneração adotado no Tocantins é uma das maiores distorções da administração pública estadual. Vincular o teto salarial do funcionalismo ao salário do governador — hoje de R$ 32.500 — é uma escolha política que penaliza justamente quem mais carrega o peso do Estado nas costas. O modelo atinge uma parcela de servidores, aqueles que alcançaram o topo de suas carreiras e que, por mérito e qualificação, deveriam ser valorizados, não limitados como acontece.

O impacto recai especialmente sobre auditores fiscais, médicos, delegados de polícia, oficiais militares, peritos criminais e outras carreiras de Estado, cujas remunerações atingem o teto. Essas funções exigem formação técnica, anos de estudo e dedicação integral — são elas que garantem o funcionamento e a segurança institucional do Tocantins. No entanto, são justamente essas categorias que sofrem com o congelamento imposto por um teto que nada tem de justo.


A vinculação ao salário do governador é uma armadilha política. Em um Estado onde cada novo ocupante do Palácio Araguaia parece querer fazer “sua graça com o chapéu alheio”, qualquer decisão populista — como reduzir o próprio vencimento para agradar o eleitor — derruba imediatamente o teto de quem nada tem a ver com o jogo. Já houve casos, inclusive, em que servidores tiveram de devolver valores recebidos de forma legal, simplesmente porque o governador decidiu ajustar seu salário para baixo.

Essas carreiras lutam há anos por uma mudança justa e racional: que o teto remuneratório estadual seja vinculado ao salário de desembargador do Tribunal de Justiça do Tocantins, como já ocorre em outros estados. Faz sentido. O Judiciário é um poder estável, técnico, e até que se prove o contrário, livre de manobras político-eleitorais. Vincular o teto a essa referência traria previsibilidade, isonomia e respeito às carreiras que sustentam a máquina pública.

Sou a favor de que todas as categorias recebam seus direitos, sem exceção. Professor, médico, policial, técnico, auditor — cada um tem seu papel essencial na engrenagem pública. O que sou terminantemente contra é essa lógica perversa de achar que quem ganha mais deve ser refém de um modelo falho, como se remuneração justa fosse sinônimo de privilégio. Não é. É reconhecimento, é respeito à lei e ao mérito.

O Tocantins precisa rever esse modelo com urgência. Enquanto o teto continuar atrelado ao salário do governador, o funcionalismo de carreira seguirá sendo vítima de um erro estrutural que mistura política com gestão. E quando a política interfere na técnica, o resultado é sempre o mesmo: quem trabalha e sustenta o Estado é quem paga a conta.

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