O Descaso que Dói: Falta dignidade à pacientes com câncer no Tocantins

Por Dermival Pereira em 24/04/2025 09:46 - Atualizado em 24/04/2025 10:32
COLUNAS
O Descaso que Dói: Falta dignidade à pacientes com câncer no Tocantins
Foto: Divulgação

Pior que um tratamento inadequado para quem tem câncer é a falta dele. Quando se chega ao extremo, a ausência de dignidade ou de respeito inerentes à condição humana, que aqui pode ser interpretada como a violação de direitos fundamentais, a discriminação, a exclusão social e o mais baixo grau de humilhação dos ‘considerados’ invisíveis. O que mais desrespeitoso você achar no atendimento da saúde pública do Tocantins, some-se a esse texto, por gentileza.

O pedido de socorro feito a este jornalista chegou às 20h de ontem (23/04) enquanto eu visitava minha irmã que também trata de um câncer. Era uma familiar da paciente Rosilene Pires Ribeiro, de 49 anos, diagnosticada no mês passado com um câncer no intestino que já se estendeu para o fígado, como mostra a tomografia a que tive acesso.

O pedido era simples, que eu a acompanhasse na UPA Sul de Palmas em mais uma tentativa de regulação para o Hospital Geral de Palmas (HGP), já que na tarde e noite do dia anterior ela esteve na unidade e a médica que a atendeu se negou a fazer isso, alegando que ela não preenchia os requisitos necessários à regulação.

Cansado de escrever sobre o assunto e não ter respostas, pensei em não ir, no primeiro momento, depois repensei e decidir acompanhá-la. Passei em casa para vestir uma calça e me dirigir a UPA Sul onde cheguei antes da ambulância. Quando a vi naquele estado, totalmente debilitada, pálida e sem conseguir seque abrir os olhos, sentir vergonha do País em que vivo, do meu Estado, de Palmas e de ter em nosso quadro de saúde, uma profissional médica capaz de negar uma simples regulação à alguém naquelas condições.

Peguei a tomografia que atestava o diagnóstico e fui até a coordenação da Unidade e após dizer que estava ali para acompanhar e fazer uma reportagem sobre o caso, fui acompanhado até a Assistência Social da Unidade onde uma pessoa foi falar com o médico que a atendia e minutos depois voltou com a informações de que ela acabara de ser regulada. Segundos depois o HGP respondeu, ‘ciente, sem vaga no HGP, no momento. Se piora do quadro clínico fazer contato telefônico’, afirmava a resposta.

Sentir vergonha de novo ao lembrar do que a familiar havia relatado. ‘Ela não consegue mais ficar de pé, come e bebe com dificuldades, além de apresentar sangramento nas fezes e dores intensas o tempo todo’. Questionei se o HGP havia se tornado um necrotério, pois se uma paciente naquelas condições não preenchia os requisitos para ser admitida e tratada de forma digna, quem mais poderia ser recebido lá, os mortos? Depois de orientar a família a procurar a Polícia e o Ministério Público, deixei a unidade prometendo acionar o estado por resposta na manhã seguinte e construir uma matéria com a importância e foco que o caso requer.

Por volta de 1h ela foi transferida para o HGP onde já se encontra medicada.

Triste o cidadão (a), que para conseguir um atendimento médico, ainda que para uma doença tão complexa como o câncer, precisa buscar a imprensa. Triste a nação, estado e município que conta com um sistema de regulação tão desumano como o do Tocantins e com profissionais médicos capazes de negar um simples encaminhamento às pessoas com tamanha gravidade. MUITO TRISTE! EU SINTO VERGONHA, não sei vocês. 

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